Lula: País não pode adotar meta de desmatamento zero

Por Andrei Netto e Alexandre Calais, enviados especiais

Estocolmo - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva descartou hoje a possibilidade de o País assumir meta de desmatamento zero. "Nem se o Brasil fosse careca poderia assumir o desmatamento zero. Sempre vai haver alguém querendo desmatar alguma coisa", definiu, justificando: "O que o Brasil está fazendo é algo revolucionário e muito forte. Já tivemos neste ano o menor desmatamento dos últimos 20 anos, estamos assumindo o compromisso de reduzi-lo em 70% até 2017 e em 80% até 2020. É uma meta que vai precisar um esforço incomensurável da sociedade brasileira para ser cumprida."

A afirmação foi feita hoje pelo presidente, em Estocolmo, durante de cúpula União Europeia-Brasil. Na reunião, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, definiu o plano brasileiro como "ambicioso" e exemplar. As negociações visando a 15ª Conferência do Clima (COP 15) das Nações Unidas foram o tema central do encontro, do qual participou o primeiro-ministro da Suécia, Fredrik Reinfeldt, presidente temporário do bloco europeu.

Confrontado com os dados da proposta brasileira, Barroso foi só elogios. "O Brasil adotou um plano muito ambicioso em termos de desmatamento", afirmou. "Em teoria, pode haver sempre mais ambição. Na Europa é a mesma coisa. Mas estamos sugerindo que outros países, em especial os com floresta tropical, com grandes zonas de mata, possam fazer um esforço comparável ao que o Brasil se submeteu."

Mesmo depois de pedir esforços dos demais países em favor de um acordo ambicioso e de definir a COP 15 como "um momento extraordinário" que enfrenta "um impasse", Lula descartou elevar as ambições de seu governo. O Brasil não pretende adotar metas de desmatamento zero nem elevar os objetivos estabelecidos no Plano Nacional de Mudanças Climáticas como forma de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa e facilitar o acordo do clima em Copenhague, em dezembro.

Protesto

Minutos antes da cúpula, em sua chegada ao palácio Rosenbad, o presidente se deparou com uma manifestação promovida por militantes do Greenpeace, que pediam em faixas e cartazes o seu comparecimento na COP 15. "Lula, você levou as Olimpíadas, agora salve o clima", dizia uma das mensagens.

Questionado sobre se confirmava a intenção de comparecer à conferência, Lula revelou que negocia com outros chefes de Estado e de governo a realização de uma reunião em Copenhague, que aconteceria entre 16 e 17 de setembro - às vésperas do término da COP 15. "A ideia é que nós participemos juntos com o maior número possível de dirigentes mundiais", explicou. Se não houver acordo, o brasileiro não comparecerá. "Mas eu trabalho com a ideia de que vários presidentes compareçam a Copenhague para que possamos fazer uma discussão a fundo."

Agência Estado

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