Jorge Yanai, Primeiro Nikkei no Senado Brasileiro

Nas últimas semanas, o médico e segundo suplente de senador, Jorge Yanai (DEM-MT) viu sua rotina mudar. Em Brasília desde o último domingo (25) para ir se “aclimatando” – na terça (27), antes mesmo de tomar posse, participou de uma audiência pública realizada Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA), que debateu o refinanciamento dos débitos agrícolas – Yanai está a uma semana de entrar para a história como o primeiro nikkei a assumir uma vaga no Senado. Será por apenas quatro meses. Mas que ele pretende aproveitar da melhor forma possível. “Será importante participar das diversas comissões, das suas discussões, deliberações e votações. Faço parte, por exemplo, de comissões importantes como agricultura e reforma agrária, meio ambiente, defesa do consumidor, orçamento e outras”, destacou, em entrevista exclusiva ao Jornal Nippak. Primeiro deputado estadual por Sinop (MT), cidade que adotou há 30 anos, Jorge Yanai também está sendo cogitado para ser o vice do pré-candidato a governador de Mato Grosso, Wilson Santos (PSDB) pela coligação PSDB/DEM/PTB. “Existe essa possibilidade, mas é o patido que vai decidir. É conveniente esperar pela Convenção, em junho, até porque ninguém costuma fechar o vice sem antes fazer os acertos finais”, afirmou Yanai ao Nippak, de Brasília. É esperar para ver.

Confira a entrevista concedida ao Jornal Nippak

Jornal Nippak: O sr. é o primeiro nikkei a assumir uma vaga no Senado. Qual a sensação de entrar para a história?

Jorge Yanai: É muita honra, uma satisfação muito grande ser o primeiro nikkei a assumir uma cadeira no Senado Federal. Ao mesmo tempo, muita responsabilidade, porque estarei sendo observado e analisado tanto pela comunidade japonesa como pelas pessoas que represento no Estado de Mato Grosso. Mas estou preparado para o desafio. Desde o início do mandato do Senador Jonas Pinheiro, venho esperando por essa oportunidade e vou aproveitar da melhor forma possível, trazendo benefícios importantes para Mato Grosso.

JN: Qual a primeira medida que pretende tomar como senador?

JY: A primeira medida como senador da República é contar a minha vida pioneira de 31 anos em Sinop, quando não existia rádio, jornal, televisão, telefone, e a luz elétrica era termodiesel e ainda por cima, racionada. Mostrar que o trabalho duro do nosso povo, o sacrifício e a determinação contribuíram para que Mato Grosso fosse o campeão nacional de produção de grãos, maior rebanho bovino e, aquele Estado que vivia às escuras, hoje é exportador de energia elétrica.

JN: Quais devem ser suas prioridades?

JY: Minhas propostas, de forma geral, serão as que trazem benefício social, como o setor da saúde, pelo conhecimento médico, que tenho, no setor educacional, porque acredito ser a alavanca do desenvolvimento de uma nação, da segurança pública, porque está impossível viver tranqüilo e em paz no nosso país. Quero sempre trabalhar em projetos que proporcionem melhor divisão de rendas, o reconhecimento de todas as profissões e os limites de suas atuações. De forma específica tenho um grande sonho, e vou trabalhar nisso todos os dias do meu mandato: aprimorar as rodovias do Brasil, como o término da BR163, que liga Cuiabá ao Porto de Santarém; trabalhar para que haja conclusão das Ferrovias Norte-Sul e Leste-Oeste, integrando nosso país com trilhos que serão uma alternativa a mais e mais barata que as rodovias. E o mais importante dos meus objetivos, a implantação do transporte aquoviário interligando todo nosso país (mais econômico para construir, mais rentável para utilizar, menos poluído, mais adequado para evitar o aquecimento global).

JN: A princípio, o sr assume por 4 meses. O que é possível fazer, de fato, neste período?

JY: Encaminhar o maior número de projetos importantes possível, mesmo porque os projetos, desde sua apresentação, passagem pelas comissões, emendas, mudanças, votações, podem levar meses e anos até. Será importante participar das diversas comissões, das suas discussões, deliberações e votações. Faço parte, por exemplo, de comissões importantes como agricultura e reforma agrária, meio ambiente, defesa do consumidor, orçamento e outras.

JN: Sua experiência como deputado estadual pode ajudar nessa empreitada?

JY: Sem dúvida, porque o poder executivo e o legislativo têm papéis e função diferentes. O legislativo precisa ter capacidade de formatar as leis de maneira que sejam boas e justas para todos, sem prejuízo ao povo ou ao erário público. Precisa ter capacidade de diálogo, saber dizer sim e não com a mesma serenidade.

JN: Pensa em se candidatar na próxima eleição? Por quê?

JY: Ser ou não candidato na próxima eleição depende mais dos objetivos do partido, que deve analisar essa possibilidade em benefício da vitória conjunta. Em política, o “eu” sozinho, não ganha nenhuma eleição. Não basta ser um bom candidato, existem outros fatores também fundamentais, que determinam a vitória ou a derrota numa eleição.

JN: Nas entrevistas concedidas ao Jornal Nippak, o sr tem ressaltado a educação que recebeu de seus pais. Qual a importância da educação japonesa? Como refletiu na sua formação e como poderá contribuir no exercício de senador?

JY: Na minha infância e adolescência, aprendi cedo com meus pais que a disciplina é fundamental, e força de vontade, essencial, e os estudos, a alavanca para o sucesso. Creio que no Senado, como em todo tipo de trabalho, são necessárias principalmente essas qualidades para se obter sucesso.

JN: A comunidade nikkei comemorou, em 2008, cem anos de imigração, sempre lembrando das heranças recebidas de seus ancestrais. Em sua opinião, que legado nós poderemos deixar para as próximas gerações?

JY: As tradições japonesas são milenares, e foram transmitidas por gerações e creio que até por DNA, e mesmo sendo de classes sociais diferentes, mantinham o mesmo comportamento contido, respeitoso e perfeccionista. Minha mãe veio de uma família modesta que chegou ao Brasil com sonhos de dias de fartura, abundância e de um dia serem proprietários de terras. Meu pai tinha um espírito mais aventureiro, foi o único dos irmãos que veio ao Brasil e, por vir muito jovem, não teve diploma universitário; ele tinha irmão médico (que no século passado pertenceu à Cruz Vermelha), outro engenheiro agrônomo e um economista. Mas no Brasil, sem conhecer a língua e os costumes, tiveram que usar a única ferramenta de que dispunham: trabalho duro e pesado. Por isso, em minha opinião, o legado que deixamos para as próximas gerações é o mesmo que recebemos: caráter, perseverança e muito trabalho.

JN: Um dia após assumir no Senado, o sr. será apresentado à comunidade nikkei de São Paulo. O que espera dessa relação?

JY: Considero a comunidade nikkey de São Paulo a maior e mais representativa do país. Isto envolve também não só o aspecto social, mas empresarial, e com este estreitamento de relações, aproveitar para carrear negócios para Mato Grosso e, ter a oportunidade de no futuro, estabelecer um canal de negociação do Estado de Mato Grosso e o governo japonês.

JN: De que forma o sr pretende utilizar sua ascendência japonesa para fortalecer os laços com a comunidade?

JY: É interessante como a comunidade japonesa se relaciona com facilidade e tem uma forte tendência a se aglutinar e formar amizades. É uma coisa instintiva, talvez pelos mesmos hábitos e costumes de criação e fortalecidos pela forte semelhança física de seus rostos inconfundíveis. No início os agrupamentos foram constituídos pela necessidade conjunta de sobrevivência em um país estranho, depois também pelos hábitos e costumes.

JN: É possível estender essa relação para fortalecer também o intercâmbio Brasil - Japão?

JY: De uma forma natural, porque a Comunidade Japonesa é muito unida, valoriza muito suas tradições e torce sempre pelo sucesso de seus membros. Dessa forma, através das associações de clubes e de relações comerciais, pretendo fortalecer o intercâmbio Brasil – Japão também com projetos para intercâmbio Japão - Mato Grosso.

JN: Como senador, pode apresentar algum projeto nesse sentido?

JY: Estimular sempre a diminuição da proteção dos produtos do seu país, para intensificar o comércio. O Brasil, por exemplo, escolheu o padrão japonês de TV de alta definição. Mais troca de experiências e conhecimentos tecnológicos entre o Brasil e o Japão. Hoje, o lugar preferencial são os EUA, pela facilidade e tradição de intercâmbio, principalmente entre as Universidades. Se fortalecermos mais o intercâmbio, como conseqüência teremos mais negócios no futuro, trazendo benefícios ao Brasil, pois o Japão é a segunda maior economia mundial e um grande comprador de comodities.

JN: Que mensagem gostaria de deixar para a comunidade nipo-brasileira?

JY: As tradições e valores de nossos antepassados não devem ser esquecidas nunca. E com elas associar as características positivas próprias do povo brasileiro como otimismo, alegria e adaptabilidade. A soma destas características deve resultar sempre em uma participação cada vez mais ativa dos nikkeis em todas as áreas públicas e privadas. E assim teremos cada vez mais membros da comunidade nipo-brasileira em posições de destaque, CEOs de companhias brasileiras, cientistas, secretários de estado, ministros e quem sabe governadores e até presidentes. Temos que fazer a diferença, sempre com honestidade e caráter.

Por Aldo Shiguti

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