Mãe e irmão de servidores na lista de beneficiários do esquema da Sefaz

As equipes de investigação dos desvios de dinheiro público pela Conta Única da Secretaria de Fazenda (Sefaz) já descobriram que parte dos beneficiários dos pagamentos ilegais são parentes e amigos dos servidores responsáveis pelo setor.

Um dos beneficiários é Marcelo Benedito de França, irmão do servidor de carreira Paulo Alexandre França, que assumiu a gerência da Conta Única com o afastamento de Magda Mara Curvo Diniz, depois que a coordenadora foi afastada do cargo para responder a uma sindicância por indícios de enriquecimento ilícito. Marcelo recebeu R$ 89.091,00 do esquema nos últimos anos.



No relatório da AGE, Paulo França chegou a ser elogiado pelos auditores por manifestar “total disposição em atender as demandas necessárias para o cumprimento do trabalho”. Com o posterior cruzamento dos dados dos recebedores, contudo, descobriu-se que um dos beneficiários do esquema é o próprio irmão do “disposto” servidor.

Após a descoberta do vínculo familiar, Paulo França foi afastado da coordenação da conta única. A reportagem confirmou que França não responde mais pelo setor, que hoje está sob a responsabilidade do servidor Geovane Lima.

HiperNoticias apurou que a mãe do servidor terceirizado Glaucyo Fabian Oliveira Nascimento Ota, Girlayne Oliveira Nascimento Ota, recebeu R$ 137.891,00. Todas as 32 pessoas relacionadas pela Auditoria Geral do Estado como beneficiárias dos pagamentos ilegais não possuem qualquer vínculo formal com o Estado. Ou seja, nunca prestaram nenhum tipo de serviço ao Governo, tampouco são cadastradas no Fiplan.

Além disso, Glaucyo Ota - um jovem que fará 27 anos em setembro, cursa Ciência da Computação na Unirondon e ingressou na Sefaz em 2005 -, tem ligações de amizade com pelo menos outros quatro beneficiários do esquema, todos da cidade de Nortelância: os irmãos Luca e Helder Luzardo; Jamerson de Araújo Kestring; e Vandercarlos Bonfim. Somando-se mãe e amigos de Glaucyio, o total de pagamentos ilegais foi de R$ 323 mil.

O outro servidor teceirizado da Sefaz, que trabalhava sob as ordens diretas de Magda Curvo, é Edson Rodrigo Ferreira Gomes, que seria filho de Albina Auxiliadora, servidora já aposentada da Sefaz, que antecedeu Magda Curvo na gerência da Conta Única.

CONEXÕES
Uma pesquisa na rede social Facebook comprova que Glaucyo e sua mãe Girlayne são amigos dos irmãos Luca e Helder Luzardo. Quanto a Jamerson Kestring, que recebeu R$ 19.980,00 da fraude, não possui conta na rede social. Algumas pessoas com o mesmo sobrenome, contudo, são amigas de Glaucyo.

A reportagem deixou mensagens de texto no Facebook a todos os citados, bem como buscou seus contatos com amigos cadastrados. Nenhum respondeu até o fechamento da matéria.

A mãe de Glaucyo, inclusive, deletou do seu perfil fotos que mostravam férias que gozou no Rio de Janeiro no carnaval deste ano, após o primeiro contato da reportagem.

O telefone de Glaucyo Ota que consta da lista telefônica deu sinal de ocupado durante todas as tentativas feitas pela reportagem nos últimos dois dias.

A reportagem não conseguiu contato com o servidor de carreira Paulo França. A Corregedoria e a assessoria de imprensa da Sefaz, em contatos anteriores, afirmaram que nenhuma informação sobre o caso pode ser repassada, porque as investigações correm sob segredo de justiça.

ENTENDA O CASO
O rombo na conta única vem sendo investigado pela Delegacia Fazendária desde 2009, segundo informações do delegado Rogério Modelli, por meio da assessoria de imprensa da Polícia Civil.

O esquema aproveita brechas do sistema de pagamentos, especialmente de folha de pagamento, que permite que alguns repasses sejam feitos não eletronicamente pelo sistema Fiplan, desde que haja um ofício da direção da Sefaz ou de algum órgão do estado requisitando-o.

Após os pagamentos, os registros devem ser conciliados e lançados no sistema. Foi nessa fase que a AGE comprovou os R$ 12,9 milhões em fraudes, por meio do pagamento a 32 pessoas diferentes sem nenhum vínculo com o Estado. Desse total, R$ 5 milhões apenas em 2011.

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