Serra diz que PT usa dinheiro público para manipular imprensa

O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, fez críticas ao governo e ao PT nesta quinta (19) ao participar do 8º Congresso Brasileiro de Jornais, em um hotel na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Convidado para falar sobre liberdade de imprensa, ele afirmou que o atual governo utiliza dinheiro publico para manipular a imprensa e a sociedade.

Consultada, a assessoria da Presidência da República informou que não irá se manifestar. O secretário de Comunicação do PT, André Vargas, afirmou que Serra "não tem credibilidade" para fazer essas declarações porque, segundo ele, o governo de São Paulo tem "uma TV chapa branca" [leia mais ao final deste texto]. A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, é aguardada nesta tarde no Congresso Brasileiro de Jornais.

Em seu discurso, Serra disse que o PT se utiliza da criação de conferências pagas com dinheiro de contribuintes para controlar a imprensa e criar projetos de lei. Serra citou as conferências de Comunicação, de Direitos Humanos e de Cultura, todas realizadas no governo Lula.

“Quantas pessoas podem ter participado dessas conferências? Quinze mil, 20 mil? Isso não representa o povo brasileiro. Representa muito mais o partido”, declarou Serra. “São de frações de partidos, basicamente do PT, que é voltado a isso e elas produzem projetos de lei. Produziram cerca de 600 projetos de lei mais ou menos, que foram enviados para o Congresso e lá permanecem como ameaças”, criticou ele.

Em seguida, ele atacou a candidata do PT à presidência, Dilma Rousseff, alegando que ela chegou a autorizar a inclusão dessas questões em seu plano de governo.

“O próprio PT inclui essas questões no seu programa de governo. Isso foi aprovado e não foi por engano. Foi um programa apresentado e registrado, rubricado pela própria candidata. Se leu ou não, é um problema de estilo, de relacionamento entre partido e candidatura.”

O candidato do PSDB também criticou a criação da TV Brasil e disse que o órgão representa o uso da máquina pública para formar opinião. A Empresa Brasil de Comunicação (EBC), empresa gestora da TV Brasil, divulgou nota rebatendo as declarações de Serra [leia a nota no final deste texto].

“Boa parte ou alguns dos blogs sujos mais importantes são mantidos inclusive com recursos desta TV Brasil feita não para ter audiência, mas para criar empregos na área de jornalismo e servir como instrumento de poder em matéria de expressão e de informação para um partido basicamente”, declarou o tucano.

Serra citou ainda os programas institucionais de governo que são veiculados na mídia, como sendo instrumentos de manipulação. Após o evento, o tucano falou aos jornalistas, mas só respondeu a uma pergunta sobre liberdade de imprensa.

PT responde


O secretário de Comunicação do PT, André Vargas,afirmou que Serra não tem "credibilidade" para criticar o partido e o governo nessa área.

“Ele não tem credibilidade para falar isso. O próprio governo de São Paulo tem uma TV chapa branca em que não se pode tocar no assunto do Metrô, por exemplo. O Serra tem tradição de pedir cabeça de jornalistas, de ligar nas redações”, declarou Vargas.

Segundo o dirigente petista, “a TV Brasil é uma TV pública. Ela não tem o objetivo de substituir outras televisões”. Para Vargas, as conferências "são colocadas publicamente, onde todo mundo tem espaço, os jornais, sindicatos, jornalistas, a sociedade civil de forma geral.”

Ele negou que o PT e o governo tentem controlar a imprensa porque, segundo afirmou, é o partido que mais se submeteu a críticas. Sobre a alteração no programa de Dilma, ele disse que ela "não tem necessidade de acolher todas as propostas do PT".

"O PT não defende controle público, nem patrulhamento da imprensa, mas defende a imprensa livre. Vindo dele não tem nenhuma credibilidade. Não tem outro partido que se submeteu tanto à crítica da imprensa desde o seu nascedouro como o PT. Fomos criticados, às vezes até ridicularizados. Diziam que não iríamos a lugar nenhum liderados por um metalúrgico. Diziam que nossa candidata não ia crescer, que era um poste”, declarou Vargas.

O secretãrio petista pediu que Serra mencione os blogs aos quais se referiu. “Ele tem que citar os nomes dos blogs, parar com esse tipo de conversa. A Sabesp investe na mídia em nível nacional e em blogs também. Se eventualmente eu leio e me informo muito pela internet, tem blog contra ele e a favor dele. Talvez os blogs limpos sejam aqueles que defendam ele e que atacam a Dilma. Fica difícil fechar a conta.”

EBC divulga nota


A Empresa Brasil de Comunicação (EBC), empresa gestora da TV Brasil, divulgou nota rebatendo as declarações de Serra.

“Afirmou o candidato que a liberdade de imprensa vem sendo ameaçada por uma estratégia que “não deixa de ser alimentada por recursos públicos, como por exemplo da (sic) TV Brasil, que não foi feita para ter audiência mas para criar empregos na área de jornalismo e servir de instrumento de poder para um partido”.

Como diretora-presidente da EBC, estranho as declarações do candidato que, recentemente, participou de uma série de entrevistas com presidenciáveis na TV Brasil, confirmando a observância dos princípios de isenção, apartidarismo e isonomia na cobertura da campanha e dos candidatos, normas igualmente observadas em toda a programação da TV Pública, das emissoras públicas de rádio e pela Agência Brasil.

Na Constituinte de 1988, de que Serra participou como deputado, o saudoso senador Arthur da Távola, do PSDB, foi um dos articuladores do artigo 223 da Constituição Federal, que prevê a complementaridade entre os sistemas privado, estatal e público na radiodifusão. A EBC e a TV Brasil não existem “para criar empregos na área de jornalismo”, como disse o candidato, mas para dar cumprimento a este artigo da Constituição, esquecido por 20 anos.

Não é também o Governo ou um partido político que dita a orientação editorial dos canais do Sistema EBC mas um Conselho Curador amplo e representativo da diversidade da sociedade brasileira. Assim é também nos países onde a radiodifusão é plural e conta com canais públicos. Tal como disse o saudoso governador Mário Covas em relação à TV Cultura, TV Pública estadual, na EBC também “o Governo paga mas não manda”.

As duas afirmações de Serra não correspondem à atuação dos canais públicos da EBC desde sua criação e durante o processo eleitoral, revelam desconhecimento da legislação específica e do esforço que vem sendo empreendido para realizar uma previsão constitucional.

Tereza Cruvinel
Diretora-presidente EBC”


Página 64 - * Colaborou Maria Angélica Oliveira, do G1, em São Paulo

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